Como Beatriz, do BBB 24, elas continuaram virgens depois dos 20 anos: 'Não achava sexo interessante, preferia estudar'

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A sister de 23 anos já havia revelado que ainda não teve a primeira relação sexual – mas não é a única. Marie Claire ouve relatos de mulheres que, por diversos motivos, preferiram segurar a onda e transar apenas quando estivessem realmente prontas, mesmo em meio a pressões sociais e olhares de julgamento


Quando a carismática Beatriz Reis entrou no BBB 24, destacou como uma de suas curiosidades o fato de ser virgem aos 23 anos – o que tem rendido a ela apelidos em tom carinhoso, como “virgem do Brás”, ou alusões como de mulher “pura” e “inocente”.


Dentro do reality, a sister já se abriu sobre a pressão que vive fora da casa por conta disso. "Escuto muita gente falar: 'Você não sabe o que tá perdendo'; 'Faz logo, menina. Você já tá muito velha'. E entram por um ouvido e saem por outro… Tenho 23 anos e não me sinto pronta." Ela também afirmou que não encontrou a pessoa certa. “Gosto de cara calmo, que fala baixo, educado... O oposto de mim.”


“Não sei se eu que assusto as pessoas com meu jeito. Mas se não for assim, não sou eu. Não tenho pressa com isso”, definiu a sister. Ela foi questionada por Deniziane se já tinha visto um pênis ao vivo e a cores – a resposta foi não – e se tinha passado por algum trauma – “Já perguntaram isso para mim. Nunca tive trauma”, rebateu Beatriz.


Por mais que possa parecer “incomum”, já que o esperado socialmente é que a descoberta sobre o sexo aconteça durante a adolescência, não é raro que mulheres (ou pessoas de qualquer gênero, na verdade) iniciem a vida sexual em outro momento da vida – ou que continuem virgem depois dos 20 anos, ou mais. Os motivos podem ser múltiplos e muito particulares de cada pessoa.


Kássia*, 26 anos e tradutora, não pensava muito em transar na adolescência. "Não achava sexo interessante, por mais que pensasse no assunto. Preferia estudar e priorizar minha carreira acadêmica e profissional." Também não via graça no sexo, depois de passar por experiências não consensuais, como define.


No início sua decisão foi respeitada, como uma forma de permanecer "pura" para o casamento; mas, com o passar dos anos, foi se sentindo cada vez mais pressionada por familiares. Aos 22 anos, ouvia que "estava velha" e que "se ninguém comesse, a terra ia comer." Também teve sua sexualidade questionada inúmeras vezes. Foi neste período que Kássia passou a entender sua escolha – a de ter a primeira relação quando se sentisse verdadeiramente pronta – como “um ato transgressor”, pelo fato de decidir o que queria fazer ou não com seu corpo.


"Sentia que transgredia um espaço social, como se meu corpo tivesse que servir ao patriarcado, ou para o prazer alheio ou para a reprodução. Por não fazer isso, as pessoas se incomodavam. Respondia que quando eu quisesse transar, eu transaria", pensa. "E outra: queria fazer sexo consensual com um cara que me respeitasse, que gostasse minimamente de mim e me tratasse com dignidade, respeito, carinho.”


‘A vida de uma pessoa que não tem relação sexual não é diferente da dos outros’


Já a empresária Maria Fernanda Vieira, 22 anos, escolheu esperar para ter a primeira relação sexual quando se casar – uma decisão que é recebida por uns com admiração, de outros, com choque e desconfiança. Ela, que vem de família cristã, tomou a decisão por motivos religiosos – mas não só.

“Desde que comecei a aprender sobre sexo na escola, meus pais me deram instruções sobre tomar cuidado e preservar meu corpo. Mas também ouvi muito sobre sexo ser uma troca, algo muito íntimo que acontece entre pessoas que realmente compartilham algo entre si."


Foram esses ensinamentos que a fizeram optar pelo celibato – uma escolha que foi totalmente refletida e tomada por conta própria, ela explica. Ela pretende se relacionar sexualmente apenas quando desenvolver sentimentos e compartilhar planos de vida e futuro.


“Também penso que o ‘esperar’ dentro de um relacionamento dá uma base mais sólida. Defendo que o namoro é o momento em que realmente busca conhecer a pessoa e se pode passar o resto da vida com ela, com ou sem sexo. Não vejo forma melhor de descobrir isso se não for sem a questão sexual envolvida."


A decisão de Maria Fernanda é muito similar à adotada pela atriz nigeriana-americana Yvonne Orji, que é cristã e adepta do celibato. Conhecida por interpretar a advogada Molly, no seriado Insecure, uma mulher sexualmente ativa, Yvonne se mantém virgem aos 39 anos, segundo revelou em novembro no podcast Dear Chelsea.


“Não tem como eu sentir falta de uma coisa que nunca experimentei”, diz Maria Fernanda. Pelo fato de não ter relações sexuais, ela diz que é comum que pensem que ela trataria o assunto de maneira puritana, como se fosse um tabu. Ela desmente: “Me considero uma romântica incurável, então filmes e livros de romance andam lado a lado comigo. Não é como se fosse algo que eu nunca fale ou ouça sobre.”


“Muita gente acredita que a falta de sexo automaticamente indica uma falta de cuidado pessoal, falta de saber sobre o lado feminino… Na verdade, é o oposto. A vida de uma pessoa que não tem relação sexual não é diferente em absolutamente nada da dos outros. O que muda é apenas o que é feito entre quatro paredes.”


‘Dava uns 'amassos' quentes, mas parava por aí’

Por mais que não seja uma idade considerada tão tardia para ter uma relação sexual, a professora Silvia*, 31 anos, teve a primeira relação sexual quando tinha 20 anos. No caso dela, o que a fez esperar por mais tempo foi o medo: com uma criação repressora por parte da mãe, ouvia que sexo era “algo sujo e que certamente resultaria em gravidez”. “Morria de medo de ter relações sexuais. Não tive namorado fixo na adolescência. A cada ficante, eu dava uns 'amassos' quentes, mas parava por aí.”

Na adolescência, sentiu na pele o julgamento por parte de outras amigas de escola. No 2º ano do Ensino Médio, quando todas tiveram suas experiências sexuais, Silvia se viu obrigada a mentir que tinha deixado de ser virgem, porque se sentia excluída do grupo. "Lia sobre relações e inventava que tinha tido com um primo, que eu nunca sequer beijei."


Por mais que exista uma grande pressão sobre os corpos das mulheres quando elas transam "demais", o mesmo acontece quando transam "de menos". Kássia ficou tão fascinada sobre a obsessão social em relação ao conceito de virgindade (principalmente das mulheres) que chegou a fazer um TCC sobre o assunto, ao se formar em Letras.


Ela fala sobre como descobriu que um conceito surgido há 2 mil anos na Grécia (e depois adaptado pela política, sociedade e religião para manter mulheres "castas e puras") contribuem para criar noções e regras pré determinadas sobre o que o sexo deve ou não ser e parecer para as mulheres. Cita, por exemplo, a invenção do hímen e de que mulheres e demais pessoas com vulva devem, necessariamente, sangrar ao ter a primeira relação sexual.


"Historicamente, o conceito de virgindade está atrelado ao gênero. O sistema patriarcal é tão bizarro e feito para controlar a sexualidade feminina que inventam conceitos para tirar autonomia sobre seus próprios corpos", diz. Ela também se refere a uma categorização nebulosa sobre o que seria ou não considerado "perder a virgindade". "Como fica esse conceito para pessoas LGBTQIAPN+ que se relacionam com pessoas do mesmo gênero? E sexo oral? Só vale quanto tem penetração? E quando se passa por um abuso sexual? Existem muitas questões a se pensar", pondera.

A primeira vez depois dos 20 anos

"Foi um momento especial. Me sentia segura e acolhida”, lembra Silvia sobre sua primeira vez. O que a fez se abrir para a experiência foi ter encontrado um namorado em quem confiava. Os dois tiveram a primeira relação sexual só depois de um ano de relacionamento. Mas ela ressalta que demorou mais bons anos para deixar de sentir dor na relação. A experiência só se tornou prazerosa mesmo quando ela tinha 26 anos, depois de muita terapia e um diagnóstico de vaginismo.


O que Silvia acha que diferencia sua relação com sexo das de outras pessoas que começaram a transar mais cedo do que ela? "Acredito que, ter perdido a virgindade mais velha, ez com que eu tivesse responsabilidade nas relações sexuais.


Isso é algo com que Kássia concorda. No último ano, ela também se sentiu aberta a ter sua primeira relação sexual com um homem de outro país, meses depois de dar match com ele em um aplicativo de namoro.


"Como já era adulta, tinha noção das consequências. Então fiz toda uma preparação: coloquei um DIU, pedi dicas para minha ginecologista, me informei sobre prevenção de ISTs, pedi guias de exames médicos para IST e Beta para depois e ainda guardei dinheiro para caso precisasse viajar ao exterior para fazer um aborto”, lembra.


Também pensou na parte mais afetiva da coisa: "Comprei lingeries, velas, camisolas fofas e li tanto sobre o assunto que me tornei uma mastermind do sexo. Foi um momento tranquilo, bastante natural. Fiz o que quis e quando quis."

*Os nomes foram alterados a pedido das entrevistadas.


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